segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Desafios de um currículo integrado

Interdisciplinariedade
A princípio, penso que uma das maiores dificuldades encontradas em um currículo integrado é a integração de todo corpo docente, de modo a haver a participação de todas as disciplinas em diversas discussões abordadas, criando projetos de trabalho, atividades nas quais os alunos consigam fazer ligações entre as diferentes disciplinas, com o intuito de organizar uma grande área de conhecimento.
Outra realidade que acredito ser de extrema importância é a escolha dos assuntos abordados pois, por meio de tais assuntos, será construída toda a temática do trabalho, inclusive, como tal trabalho será desenvolvido. Temáticas atuais se tornam interessantes pois podem trazer a realidade dos alunos para dentro da escola, facilitando, em determinadas ocasiões, o processo de ensino-aprendizagem e o processo de transformação do conhecimento já existente no aluno, porém, deve-se pensar nesses temas pois, pelo fato de cada um ter sido criado de uma forma diferente, ter sua própria bagagem, sua própria cultura, determinados assuntos (religião, sexualidade, política) não conseguiriam estimular o interesse dos mesmos, podendo gerar diversos impecilhos no decorrer do processo.
Imperador Napoleão
Gostaria de ressaltar também a fundamental importância do papel do diretor em todo esse contexto pois, se o objetivo é a integração entre os professores, alunos, comunidade; o diretor não deveria tomar posturas autoritárias e pensar que apenas ele pode tomar decisões pois, fazendo isto, estaria indo completamente contra a essência do trabalho. Nesse contexto o diretor deve se postar democraticamente na maioria das situações, se tornando o articulador de todo o processo, e não o "imperador da escola".

Gestão escolar - Autoritária X Democrática

Filme A onda
Nos tempos atuais, a gestão escolar brasileira se baseia principalmente em um modelo autoritário de gestão, na qual a direção da escola é centralizada em apenas um indivíduo, o diretor. Segundo Libâneo (2003), neste modelo de gestão as decisões são tomadas de cima para baixo, obedecendo a uma hierarquia previamente estabelecida, não levando em consideração as opiniões dos professores, alunos, pais e toda a comunidade, dificultando suas participações.
Infelizmente, este modelo de gestão gera a desmotivação dos professores, por não terem espaço nas tomadas de decisão e também causa certo desinteresse dos alunos, que não conseguem relacionar a sua vida escolar com a sua vida pessoal. Esses fatos ficam bem claros na afirmação: "A escola não está ilhada, mas sim inserida numa comunidade concreta, cuja população tem expectativas e necessidades específicas que precisam ser levadas em conta." (Setubal, 1995, pág. 4); ou seja, esses elementos (professores, alunos, pais, comunidade) devem trabalhar em conjunto no processo de educação.
Gestão democrática
Após reconhecerem a atual situação do ensino público em nosso país, a idéia de gestão democrática na escola está sendo fortemente difundida, como consta na LDB (Leis de diretrizes e bases) nº 9394/96, quando defende que deve haver um fortalecimento da descentralização do poder.
Conforme analisado em um estudo de caso, tal texto indica, a priori, que a administradora da escola parece ter um caráter democrático devido a ser muito receptiva com a igreja local da qual faz parte, que tem papel importante nas decisões tomadas por ela, porém, deve-se tomar cuidado com o conceito de democracia, pois o mesmo pode ser manipulado e usado em favor próprio.
Realizar uma gestão democrática é tentar buscar atender as expectativas de uma sociedade em relação à escola, mas para isso é fundamental que as relações entre educadores e a sociedade sejam mais flexíveis e menos autoritárias.
Diretor
O diretor tem um papel fundamental nessa relação, pois ele deixa de ser a autoridade única da escola e passa a ser o articulador das ações e interesses de todos os segmentos, pois em uma gestão democrática, as decisões devem ser partilhadas com a comunidade. Dessa forma, ele deixa de ser aquela figura que só se preocupa com os papéis,  com burocracias, que não participa das decisões e atitudes pedagógicas. "...é preciso um novo diretor, libertando-o das suas marcas de autoritarismo, redefinindo o seu perfil, desenvolvendo características de coordenador, colaborador e de educador, para que consigamos implementar um processo de planejamento participativo de representatividade dos segmentos da comunidade interna." (Assis, 2008)
Porém, não é tão simples assim lidar com a gestão democrática, pois lidar com pessoas e idéias diferentes não é nada fácil. Faz parte da participação de cada elemento nessa gestão democrática aprender a conviver com o diferente, com as idéias contrárias as suas. Dessa forma, esse é mais um ponto importante da gestão democrática, pois ao exercê-la, nota-se claramente a conquista da cidadania, a capacidade de perceber e conviver com direitos e deveres, sempre respeitando os demais, e essa situação se estende para fora da escola e se aplica na vida de todos que fazem parte do processo. "Partilhando a gestão com a comunidade, a escola finca raízes, vai buscando soluções próprias, mas adequadas as necessidades e aspirações dos alunos e de suas famílias, e conquista, aos poucos, autonomia para definir seu projeto." (Setubal, 1995, pág. 4)
Participação coletiva
Nesse tipo de gestão todos saem ganhando, o aprendizado acontece em mão dupla, pois a participação da família nos assuntos que dizem respeito à educação é um grande aliado dos professores, que podem aprender muito a respeito de seus alunos e conhecê-los melhor, além de ser um estímulo aos próprios alunos ao verem suas famílias contribuindo com medidas e soluções. "Ao longo de sua participação, vão se envolvendo com o processo pedagógico. Quando pais e educadores estão presentes nas discussões dos aspectos educacionais, estabelecem-se situações de aprendizagem de mão dupla: ora a escola estende sua função pedagógica para fora, ora a comunidade influencia os destinos da escola. As famílias começam a perceber melhor o que seria um bom atendimento escolar, a escola aprende a ouvir sugestões e aceitar influências." (Setubal, 1995, pág. 9)
Conselho escolar
O conselho escolar, associação de pais e mestres, conselho de classes, reuniões com opiniões do corpo docente, discussões para melhorias da escola e da educação em si, entre outros, são alguns exemplos de como a gestão democrática acontece na escola. "A maneira mais comum de assegurar a participação de todos interessados na gestão da escola é a instalação de um conselho escolar: um grupo de representantes de pais, professores, alunos, funcionários e direção, que se reúne para sugerir medidas e soluções ou para tomar decisões." (Setubal, 1995, pág. 11)
É muito importante que fique claro que a gestão democrática é um passo para uma sociedade mais igualitária, não só no âmbito escolar, mas na sociedade como um todo, pois, conforme Lemme, "...somente numa sociedade verdadeiramente democrática será possível o florescimento de uma escola democrática e popular." Na gestão democrática surge um sujeito coletivo, irradiando a relação de mando e submissão.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Formação docente

Pluralidade cultural
Partindo do princípio de que ser professor não é apenas ensinar disciplinas com base em teorias pré formadas e seguindo metodologias que tendem a ajudar somente quem está no comando e, sim, tentar ensinar os alunos (principalmente crianças) a pensar, refletir e analisar não apenas as disciplinas abordadas mas, também, fazer com que pensem e reflitam sobre as situações do cotidiano na realidade em que vivem, tentando sempre conscientizá-las de que dentro de uma mesma sala de aula, por mais que existam pessoas que se identifiquem, cada indivíduo vive uma realidade diferente e tem maneiras diferentes de aprender, tentando ensiná-las não apenas para a escola ou o trabalho e, sim, tentar ensiná-las para a vida. "A instituição que educa deve deixar de ser um lugar exclusivo em que se aprende apenas o básico (as quatro operações, socialização, profissão) e se reproduz o conhecimento dominante, para assumir que precisa ser também uma manifestação de vida em toda sua complexidade, em toda sua rede de relações e dispositivos com uma comunidade, para revelar um modo institucional de conhecer e, portanto, de ensinar o mundo e todas suas manifestações." (Imbernon, 2004, pág. 8)
Taylorismo
Desigualdade social
Se analisarmos friamente as condições atuais do professorado, enxergaremos com facilidade que muitos professores usam o modo taylorista de trabalho para ensinar seus alunos, os quais apenas sentam em suas carteiras e ficam ouvindo o professor repetir as informações que aprendeu em algum lugar e algum momento, tudo de forma homogeneizada como se todos aprendessem da mesma forma e ao mesmo tempo. "É claro que a instituição educativa evoluiu no decorrer do século XX, mas o fez sem romper as linhas diretrizes que lhe foram atribuídas em sua origem; centralista, transmissora, selecionadora, individualista... para educar realmente na vida e para a vida, para essa vida diferente, e para superar desigualdades sociais, a instituição a instituição educativa deve superar definitivamente os enfoques tecnológicos, funcionalista e burocratizantes, aproximando-se, ao contrário, de seu caráter mais relacional, mais dialógico, mais cultural-contextual e comunitário, em cujo âmbito adquire importância a relação que se estabelece entre todas as pessoas que trabalham dentro e fora da instituição." (Imbernon, 2004, pág. 7)
Conhecimento prático
E seguindo esta linha de raciocínio, não restam margens para se colocar toda a culpa em cima do professorado, pois, a maioria destes em suas formações iniciais, não foram instigados à pesquisa, à vontade de adquirir conhecimento não foi alimentada devidamente, pelo contrário, a maioria dos docentes que hoje não conseguem incentivar seus alunos às pesquisas, a ir atrás do conhecimento, não conseguem isto porque também não foram instigados a conhecer. Claro que em se tratando de conhecer o interesse parte de cada um, porém, o incentivo não é apenas um mecanismo bom, como, ao meu ver, é indiscutivelmente necessário para a evolução do ser humano. "Sabemos que dificilmente o conhecimento pedagógico básico tem um caráter muito especializado, já que o conhecimento pedagógico especializado está estreitamente ligado a ação, fazendo com que uma parte de tal conhecimento seja prático, adquirido a partir da experiência que proporciona informação constante processada na atividade profissional. A formação inicial deve fornecer as bases para poder construir esse conhecimento pedagógico especializado. A análise do conhecimento do professor responde melhor ao propósito de começar a ver a atividade docente como exercício de um tipo especial de conhecimentos com os quais, ao realizar seu trabalho, os professores enfrentam todo o tipo de tarefas e problemas." (Imbernon, 2004, pág. 57)
Formação permanente
E em se tratando de interesse de cada um, isto vai influenciar diretamente na formação permanente do professorado, pois, se um docente não se interessa em evoluir, ele não vai refletir sobre suas teorias, suas práticas, não vai trocar experiências e conhecimentos com outros docentes, melhorando a comunicação, não vai participar de projetos integrados de trabalho, enfim, não estará realmente participando do meio em que trabalha, continuando a ser mais um individualista e impedindo assim sua própria evolução. "A capacidade profissional não se esgotará na formação técnica, mas alcançará o terreno prático e as concepções pelas quais se estabelece a ação docente. A formação terá como base uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática docente, de modo a permitir que examinem suas teorias implícitas, seus esquemas de funcionamento, suas atitudes, realizando um processo constante de auto avaliação que oriente seu trabalho. Isso supõe que a formação permanente deve estender-se ao terreno das capacidades, habilidades e atitudes e que os valores e as concepções de cada docente e da equipe como um todo devem ser questionados permanentemente." (Imbernon, 2004, pág. 48)

Sistema educacional, questão de conscientização?


Democracia

Se pensarmos na situação atual da maioria das instituições educativas, principalmente as públicas, agora enxergo com clareza que a educação que está sendo construída em nossos alunos, por muitas vezes, segue em sentido contrário aos princípios mais básicos do que chamamos de democracia. As instituições, o corpo docente, o governo, a própria sociedade me parecem não ter mais o interesse em formar cidadãos crítico-reflexivos, que analisam as diversas situações do cotidiano, que agem de acordo com o que o problema apresenta, que entram em diálogo para se chegar em melhores soluções e, ao invés disto, estão construindo pessoas práticas e técnicas, que seguem metodologias que tem como objetivo apenas fazer com que as pessoas não pensem e paguem por tudo aquilo que necessitam.
Diversos fatores agravam a situação da educação, como por exemplo:
Investimento em prédios
  • Falta de investimento nos professores que, segundo Menga Ludke (2004, pág. 1166), "mesmo economistas esclarecidos com relação ao valor da educação, quando em postos de responsabilidade político-administrativas, são obrigados, em parte, a atuar contra o investimento em professores e a defender o emprego dos recursos maciçamente em prédios e equipamentos duráveis."
  • A aplicação, na maioria das vezes, de apenas uma metodologia de ensino que, segundo Maria Helena Souza Pinto (2004, pág. 64), "a idéia de que ensino eficaz é basicamente a aplicação de um saber metodológico, epistemologicamente fundamentado, em outros saberes, principalmente de natureza psicológica, é altamente discutível."
    Formação inicial
    
  • Falhas nas formações iniciais do professorado que, hora por culpa de todo o sistema e de fatores históricos e, hora por culpa dos próprios docentes, acaba prejudicando todo o processo de ensino-aprendizagem dos nossos futuros professores.
  • A influência política sofrida pelas instituições educativas por parte do estado (população, governo, território), que não tem a menor intenção de formar cidadãos que pensam e analisam as diversas situações. Assim como é mostrado no clip musical The Wall, vejo que esta é a intenção dos nossos governantes, fazer com que as pessoas percam as suas identidades e apenas sigam as regras impostas.
Em resumo, penso que é necessário começar uma conscientização geral na sociedade para que possamos mudar a forma de construir conhecimento e formar pessoas e pensamentos que se encaixem verdadeiramente na palavra cidadãos e para que possamos continuar com a esperança de um futuro melhor não para nós e, sim, para nossos filhos e netos.